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Desmame racional reduz fugas e produz bezerros mais resistentes

  • 26/02/2016
  • Avaliações de temperamento realizadas na Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos, apresentaram resultados satisfatórios em bezerros desmamados de forma menos estressante.

Com o novo método, a reatividade foi menor do que a dos bovinos desmamados pelo método tradicional.
Segundo a pesquisadora Cíntia Marcondes, o novo manejo está sendo usado desde 2014 em animais cruzados e, em 2015, em Canchim. Os bezerros de corte, com cerca de oito meses de idade, são separados da vaca apenas por um corredor, em pastos diferentes, nos quais a mãe e o filho mantêm contato visual, auditivo e olfativo. Essa forma de desmama, chamada de racional, diminui o estresse causado pela separação e melhora o bem-estar.

De acordo com o veterinário Raul Mascarenhas, existem diversos métodos de desmama. No tradicional, o bezerro é apartado da mãe e levado a locais distantes, para que não haja nenhum tipo de contato. Para minimizar o estresse, é comum o pecuarista colocar algumas vacas junto aos bezerros para servirem de "madrinhas". Nesse método, nenhuma das fêmeas é mãe do animal desmamado e os problemas causados pela separação continuam.

Mascarenhas conta que os animais da Fazenda Canchim, sede da Embrapa Pecuária Sudeste, adaptaram-se bem e demonstram um grau menor de estresse, comparando-se ao manejo em que ficavam distantes das mães. Não ocorreram mais fugas e houve redução de rompimento de cercas e lesões nos animais.

Na desmama tradicional é comum que tanto as vacas como os bezerros permaneçam vocalizando durante dias. Muitos animais, ao ouvirem o berro dos filhos, arrebentam cercas para irem ao seu encontro. Nesse percurso, há grande chance de sofrerem acidentes. Além disso, passam mais tempo caminhando e estressados. Com isso, deixam de se alimentar, ruminar e descansar, causando prejuízos econômicos ao produtor. O estresse reduz o ganho de peso do bezerro e afeta sua imunidade, deixando-o mais vulnerável a doenças.

Para confirmar os benefícios da desmama racional, foi realizada avaliação de temperamento em dois grupos de bovinos da raça Canchim da Embrapa Pecuária Sudeste. Foram comparados 236 animais da desmama tradicional e 227 da racional. No teste analisaram-se informações de reatividade animal em ambiente de contenção móvel, como na balança de pesagem, local onde são contidos para realizar a medida de reatividade.
No experimento foi utilizada uma nova tecnologia. O Reatest, desenvolvido pela zootecnista Walsiara Maffei, durante seu doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais, é uma metodologia usada para medir o temperamento por meio da reatividade. Um dispositivo eletrônico quantifica a frequência e a intensidade dos movimentos do bovino no processo de pesagem, numa escala de 1 a 9.999 pontos. Durante 20 segundos, o equipamento capta a reatividade e os dados ficam armazenados em um software específico. As maiores pontuações indicam animais mais reativos, ou seja, que apresentam maior estresse quando contidos na balança.

Nas análises, a pesquisadora Patrícia Tholon observou que animais submetidos a desmama racional foram menos reativos que o grupo da tradicional. Outra constatação é que entre machos e fêmeas, o manejo racional mostrou-se mais efetivo em fêmeas. Já em machos, a diferença não foi tão significativa. "Os maiores valores de reatividade foram apresentados pelas fêmeas, mostrando que o sexo influencia consideravelmente a expressão dessa característica", explica Patrícia.

Segundo a pesquisadora Cintia, o método da desmama racional já foi implantado definitivamente na Embrapa Pecuária Sudeste. "Outros lotes de animais serão avaliados para dar maior robustez às análises", afirma. O objetivo é identificar a porção genética da característica de temperamento para poder utilizá-la na seleção dos animais da raça Canchim, já que tal comportamento tem influência no desempenho do animal. Bovinos reativos têm menor ganho de peso diário, desempenho reprodutivo inferior, resistência mais baixa a ecto e endoparasitas que animais mansos. Além disso, o manejo é mais difícil e os riscos de acidentes de trabalho são mais altos.

Fonte: Embrapa

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