Ainda no século passado, no ano de 1946, em sua famosa obra "Geografia da Fome", Josué de Castro já fazia o seguinte alerta: "É urgente a elevação dos índices de produtividade no Nordeste para que se possa melhorar os níveis de saúde e dominar a incidência das endemias regionais". De lá para cá, muitas ações governamentais foram empreendidas no sentido de combater a fome na região, em especial nas áreas mais afetadas pela seca, a exemplo do semiárido piauiense. Em 2012, o Governo Federal deu início a mais um programa voltado para a redução da pobreza e combate à fome, o Brasil Sem Miséria (BSM). A Embrapa Meio-Norte coordena um dos projetos que fazem parte deste leque de ações. Visando promover ações tecnológicas para o fortalecimento da agricultura familiar no Território Vale do Guaribas (composto por 39 municípios), no período de agosto de 2012 a julho de 2015, uma equipe liderada pelo agrônomo e analista de Transferência de Tecnologia, José Câmara, foi responsável pelo desenvolvimento de estratégias com foco no fortalecimento dos sistemas de produção agropecuários, na melhoria da qualidade de vida e no aumento da produção e produtividade daquelas atividades já realizadas pelos agricultores da região. "Tudo o que foi oferecido aos agricultores tem como objetivo reforçar a alimentação das famílias. Por isso trouxemos variedades de milho e feijão mais produtivas e trouxemos outras alternativas que pudessem ajudar a melhorar a produção deles e a situação da família", comenta José Câmara. Para participar do projeto, foram escolhidas famílias que já tinham experiência com a produção agrícola e que haviam recebido recursos de outra ação ligada ao BSM, coordenada pela Emplanta, empresa de assistência técnica contratada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, em parceria com o Governo do Piauí. Mudança na qualidade de vida - Dos sete agricultores escolhidos, seis permaneceram no projeto até a sua conclusão. Apenas um desistiu, em decorrência de problemas de saúde graves que o impediram de continuar com a produção. As famílias participaram de treinamentos, receberam sementes e mudas e firmaram o compromisso de compartilhar conhecimentos e parte das sementes e mudas com os vizinhos de maneira a ampliar o raio de ação do projeto. Os seis agricultores e familiares entrevistados são unânimes ao afirmar a mudança em suas vidas ocorrida após o início do projeto. Embora algumas ações tenham sido comprometidas pela escassez de chuva em vários anos durante a realização do projeto, as novas variedades de feijão, sorgo e palma, assim como as orientações sobre a construção de instalações para ovinos e para galinhas, e as técnicas de manejo das áreas agrícolas e animais, além da produção de feno, silagem e utilização de bancos de proteínas para alimentação animal foram representativas para as mudanças na qualidade da produção agrícola e animal, na melhoria da alimentação e renda das famílias envolvidas. Juvenal Raimundo de Carvalho, 46 anos, e Luisa Teresa de Carvalho, moradores da comunidade Canto Alegre, em Padre Marcos, também conseguiram produzir mais e de maneira mais organizada após o início do projeto. "Se não fosse a palma teria que comprar ração. No período da seca, pela manhã dava a palma e à tarde dava milho com resíduos de algodão. Assim as ovelhas não perderam peso e aguentaram até a chuva voltar", acrescenta. Já Felipe Francisco de Lira, 35 anos, e Januária Lira, 36 anos, além de criar ovelhas e galinhas, criam perus e investem também na criação de abelhas apis melífera. No primeiro semestre de 2015, Felipe vendeu 52 baldes de mel a 200,00, cada. A quantia que conseguiu com a venda do mel irá investir em ovelhas quando o valor de mercado estiver mais baixo. Fonte: Embrapa